domingo, 7 de dezembro de 2008

Faxina

A mãe arrumava o quarto da filha. Tirava o pó, dava brilho nos móveis, limpava o vidro da janela, varria o chão. Nas prateleiras em frente à cama estavam vários porta-retratos, com fotos de outros tempos. Fotos são sempre de outros tempos, qualquer foto é um registro de um presente que já passou. Passado. Nas fotos estavam os sorrisos,muitos sorrisos.Só em duas ou três é que os rostos estavam menos sorridentes, talvez porque foram fotografias feitas sem aviso prévio. Aquelas sim eram um registro do que estava acontecendo, diferente das outras, em que o que quer que estivesse acontecendo antes da foto tinha sido interrompido.
Ao lado dos porta-retratos estavam os livros.Todos tinham as páginas amareladas. Tinham sido dados pela avó da menina.
A mãe pousou os olhos nos livros, e então olhou para as fotografias.Lágrimas.Queria poder voltar àqueles momentos.
Olhou para a filha, deitada na cama.Sabia que mesmo que gritasse muito ela não acordaria e daria um daqueles sorrisos das fotografias.Ela estava longe. Estava em coma.

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