sábado, 21 de março de 2009

Eles sempre saberão o que dizer...

Eles vão dizer que essas coisas são assim mesmo, que isso passa. Eles vão dizer que o tempo cura tudo. Vão tentar te fazer sorrir. E você vai sorrir, porque empurrar as bochechas vai requerer menor esforço do que dar explicações sobre o inexplicável.
Vai continuar a perder algumas horas de sono, mas agora por outras razões. É inevitável. Quando acordar não vai se lembrar dos sonhos. Não vai sorrir sem motivo durante o dia.O tempo dos sorrisos sem motivo vai parecer estar há anos-luz.
Vai continuar a se lembrar, isso também será inevitável. Cada música será uma chave. Até aquelas que não deveriam ser chaves, serão chaves apenas pelo fato de não o serem.
Eles vão dizer que é besteira, que o que está feito está feito e que o que não tem remédio, remediado está. Vão dizer uma série de frases feitas e ditos populares.
Eles vão perguntar se está tudo bem, e o mais seguro será repetir as últimas duas palavras da pergunta e usá-las como resposta. Copy. Paste.
Não será mentira. Tudo estará bem. O mundo continuará funcionando como sempre funcionou. E esse consolo será maior do que qualquer conselho.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Amnésia

Este não é o texto que eu ia escrever. Eu estava fazendo uma lista de grandes conquistas , coisas do tipo “ aprender a amarrar os cadarços” e “andar de bicicleta sem rodinhas”. Como próximo item a minha intenção era escrever “ aprender a escrever o próprio nome”, mas meus dedos revoltaram-se e sem que eu percebesse acabei escrevendo “ aprender a esquecer o próprio nome”.
Só notei tal erro depois de já ter escrito mais dois itens. Seria realmente um erro? Aprender a esquecer o próprio nome não seria, na verdade, uma das maiores conquistas? Não me refiro ao nome como apenas a maneira pela qual somos chamados ,mas como um tipo de gesso que não permite mudanças.Algo que acaba fazendo com que nos comportemos como as pessoas esperam.Consciente ou inconscientemente.
Quando eu tinha uns dez anos passou na TV uma novela em que uma determinada personagem sofria um acidente que fazia com que ela tivesse amnésia.Ela tinha esquecido de onde vinha, quantos anos tinha e de todas as pessoas que conhecia.Achei tão incrível que cogitei bater a cabeça algumas vezes...Era muito surreal pensar em alguém que não soubesse o próprio nome.
Eu me pergunto se alguém que esquece quem é, tem novas atitudes , ou acaba sendo exatamente a mesma pessoa.
O esquecer o “nome” é esquecer o que espera-se que sejamos, para nos tornarmos , a cada dia , o que de fato somos.

Recorro ao Rubem Alves que foi quem me pôs essas idéias na cabeça :

“A memória, por vezes, é uma maldição. Já relatei sobre meu querido amigo Amilcar Herrera que me confessou: “Eu desejaria, um dia, acordar havendo me esquecido do meu nome...” Não entendi. Esquecer o próprio nome deve ser uma experiência muito estranha. Aí ele explicou: “Quando eu me levanto e sei que meu nome é Amilcar Herrera, sei também tudo o que se espera de mim. O meu nome diz o que devo ser, o que devo pensar, o que devo falar. Meu nome é uma gaiola em que estou preso. Mas se, ao acordar, eu tiver me esquecido do meu nome, terei me esquecido também de tudo que se espera de mim. Se nada se espera de mim estou livre para ser aquilo que nunca fui. Começarei a viver minha vida a partir de mim mesmo e não a partir do nome que me deram e pelo qual sou conhecido.” Entendi na hora e fiz ligação com algo que Alberto Caeiro escreveu: “Procuro despir-me do que aprendi, procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, mas um animal humano que a natureza produziu.” Roland Barthes na sua famosa “Aula” também disse estar se entregando à desaprendizagem do aprendido para livrar-se das sucessivas sedimentações dos saberes que, com a passagem do tempo, vão se depositando em nossos corpos."
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Moral da história : Alguns erros geram posts...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Nome

Eu não estava pensando. Eu ouvia música e ia olhando o desfile diário da paisagem na janela do ônibus. Eu repito : Eu não estava pensando.Aconteceu como toda casualidade acontece, foi algo inesperado que dependeu de muitos fatores invisíveis da maldita teia intangível...

Dependeu da existência de várias gerações, pra que o dono carro existisse, dependeu que ele continuasse existindo até comprar um carro, dependeu da sujeira que se acumulou no vidro, e de que um ser conhecesse outro ser que tivesse vontade de riscar o seu nome no vidro sujo. Dependeu da chuva. Do caminho. Da minha falta de vontade de ler.

Abracei cada migalha de acaso pra não pensar em destino.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Desculpas #1

Acabo de desejar um sem-graça " feliz aniversário" pelo telefone, e é sempre assim, sem graça. Eu simplesmente não tenho talento para esse tipo de coisa. As palavras certas resolvem fugir e tudo o que me resta é " parabéns", "feliz aniversário", "muita saúde , paz etc".Cumprem a função de dizer que lembrei. De dizer que estou feliz pela existência da pessoa e que gosto dela.
Uma coisa eu sei: não sou a única. Tem mais gente por aí que também é obrigada a se ater às mesmas palavras todos os anos. Isto é um grande pedido de desculpas pela minha falta de criatividade. Ainda que o meu vocabulário seja pequeno, ele é sincero, realmente desejo o que digo que desejo.