sexta-feira, 20 de março de 2009

Amnésia

Este não é o texto que eu ia escrever. Eu estava fazendo uma lista de grandes conquistas , coisas do tipo “ aprender a amarrar os cadarços” e “andar de bicicleta sem rodinhas”. Como próximo item a minha intenção era escrever “ aprender a escrever o próprio nome”, mas meus dedos revoltaram-se e sem que eu percebesse acabei escrevendo “ aprender a esquecer o próprio nome”.
Só notei tal erro depois de já ter escrito mais dois itens. Seria realmente um erro? Aprender a esquecer o próprio nome não seria, na verdade, uma das maiores conquistas? Não me refiro ao nome como apenas a maneira pela qual somos chamados ,mas como um tipo de gesso que não permite mudanças.Algo que acaba fazendo com que nos comportemos como as pessoas esperam.Consciente ou inconscientemente.
Quando eu tinha uns dez anos passou na TV uma novela em que uma determinada personagem sofria um acidente que fazia com que ela tivesse amnésia.Ela tinha esquecido de onde vinha, quantos anos tinha e de todas as pessoas que conhecia.Achei tão incrível que cogitei bater a cabeça algumas vezes...Era muito surreal pensar em alguém que não soubesse o próprio nome.
Eu me pergunto se alguém que esquece quem é, tem novas atitudes , ou acaba sendo exatamente a mesma pessoa.
O esquecer o “nome” é esquecer o que espera-se que sejamos, para nos tornarmos , a cada dia , o que de fato somos.

Recorro ao Rubem Alves que foi quem me pôs essas idéias na cabeça :

“A memória, por vezes, é uma maldição. Já relatei sobre meu querido amigo Amilcar Herrera que me confessou: “Eu desejaria, um dia, acordar havendo me esquecido do meu nome...” Não entendi. Esquecer o próprio nome deve ser uma experiência muito estranha. Aí ele explicou: “Quando eu me levanto e sei que meu nome é Amilcar Herrera, sei também tudo o que se espera de mim. O meu nome diz o que devo ser, o que devo pensar, o que devo falar. Meu nome é uma gaiola em que estou preso. Mas se, ao acordar, eu tiver me esquecido do meu nome, terei me esquecido também de tudo que se espera de mim. Se nada se espera de mim estou livre para ser aquilo que nunca fui. Começarei a viver minha vida a partir de mim mesmo e não a partir do nome que me deram e pelo qual sou conhecido.” Entendi na hora e fiz ligação com algo que Alberto Caeiro escreveu: “Procuro despir-me do que aprendi, procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro, mas um animal humano que a natureza produziu.” Roland Barthes na sua famosa “Aula” também disse estar se entregando à desaprendizagem do aprendido para livrar-se das sucessivas sedimentações dos saberes que, com a passagem do tempo, vão se depositando em nossos corpos."
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Moral da história : Alguns erros geram posts...

2 comentários:

Estelinha disse...

Poxa, quero errar assim também!

Nathy disse...

Adorei!!!
Mas é uma coisa a se pensar mesmo. Será q teriamos as mesmas atitudes e idéias se perdessemos a memória? E cm seria se um dia ela voltasse? Imagina q estranho descobrir que se tornou uma pessoa completamente diferente do nd?

Poxa, quero errar assim também! [2]