sábado, 13 de dezembro de 2008

A casa da esquina

Quando criança uma das minhas diversões era fugir da vizinha louca da minha avó.Ela morava do outro lado da rua e era um tanto quanto perturbada. Dona Elvira, a quem chamávamos "Bruxa do 71",usava roupas comuns, mas às vezes colocava o soutien por cima da blusa.Quando me lembro de Dona Elvira é exatamente essa a imagem que me vem na cabeça : Cabelos grisalhos e despenteados, bulsa de linho vermelha, soutien bege por cima da blusa, saia marrom , meias 3/4...Não me lembro do rosto dela...Eu desconfio que as crianças vêem as pessoas de um jeito diferente...E a imagem de alguém que conhecemos na infância, quando tenta se formar , parece mais uma obra cubista.
Dentre as travessuras de Dona Elvira estava o gosto em nos jogar baldes d´água. "Ela é louca!", dizíamos. Íamos então reclamar com o seu marido, Seu Genésio, que provavelmente odiava quando isso acontecia...
Dona Elvira morreu e hoje o homem vive só. Quando chega essa época de natal ele enfeita a casa toda de luzinhas e enfeites que ele mesmo faz com partes de garrafa PET pintadas com tinta acrílica.Deve ser um jeito de não se sentir tão só.
Ainda outro dia fiquei sabendo que se interessa também por fotografia. Saiu fotografando a cidade e depois deixou o álbum na casa da minha vó para que víssemos.Algum crítico fotográfico chamaria de lixo, mas foi interessante ver o olhar descomprometido de alguém que só quer registrar o mundo.
Quando vejo aquela casa, toda enfeitada, toda luminosa não sei se fico triste ou feliz.Algumas pessoas repetem o que eu dizia da sua falecida esposa : "Está doido!".Tenho medo dessa solidão concreta. De estar de fato só, de ter que encher a casa vazia de luzes coloridas, para tentar dispersar a solidão.

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