quarta-feira, 8 de abril de 2009

Terça- Feira

Pelo vidro da porta não passa uma alma viva. Nem morta. Os únicos sons são o do papel riscando a folha e o do ar condicionado. Ao menos isso, ao menos não morro sufocada pelo calor que faria não fosse o trabalho incessante do ar condicionado. Ele trabalha mais do que eu.
Duas mesas, um computador (que só funcionaria se eu soubesse a senha) e seis cadeiras. Ás minhas costas livros e mais livros, de assuntos que poderiam me interessar se não fosse o tédio.
Na segunda gaveta vários clipes de papel em uma caixa aguardam o momento de serem úteis. O momento mágico em que um clipe unirá uma folha à outra. Junto a eles repousa um saco plástico cheio de elásticos, que por não terem sido úteis durante muito tempo derreteram-se e solidificaram-se em uma massa amorfa de borracha quebradiça.
Perto do teto, os jornais antigos e amarelados. Separei-os por mês, ano, e os coloquei em caixas. Pudesse eu organizar minha própria vida como organizei esses jornais...
O chão é de um azul –esverdeado. É o mar de um quadro impressionista. O teto me lembra sorvete de flocos : grandes placas brancas salpicadas de pingos pretos.
Joguei um alfinete no chão e comprovei a potência do silêncio.
O lugar e a situação são próprios à alucinações. Ainda não as tive. Ainda não conversei com seres imaginários sentados nas cadeiras vazias à minha frente... Talvez isso seja um exagero, o mais perto que cheguei disso foi ver um vulto no vidro da porta.

Entendo porque O Náufrago criou Wilson...

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