terça-feira, 21 de abril de 2009

Diário de bordo

Parte I

Dá medo ficar lembrando demais. Medo que a memória altere alguma coisa e no fim já não se saiba o que foi real, e o que se tornou real apenas pela imaginação.Memória inventada.

Mas cheguei a ver quatro borboletas azuis, e disso tenho certeza. Nunca tinha visto borboletas como aquelas: eram grandes (porque se as vi de longe, tinham que ser grandes), e o azul era intenso, talvez o azul com mais intensidade de toda natureza. Foi a segunda coisa incomum do mês: primeiro foi a estrela cadente. Quando a vi imitei os personagens da ficção e fiz um pedido.Um pedido estúpido.


Parte II

Procurávamos pela casa naquelas ruas sem nome e ela nos surpreendeu de moto. A fachada havia mudado, nunca encontraríamos...

Gosto de estar em lugares diferentes, de andar sem saber o que há na próxima rua.


Parte III


Chovia e o mar estava agitado. Ao olhar para ele nem parecia que não nos víamos há tanto tempo, como quando a gente vê um amigo que já não via há algum tempo. Apesar de todas as diferenças em relação ao passado, existe a sensação de que nada mudou. Não sei por quanto tempo fiquei ali, olhando, navegando em terra firme, mas não foi por muito tempo.

Imagino que deva ser como olhar para o planeta Terra estando fora dele,sentir-se menor, mas de uma maneira positiva. O que é tudo diante de tanta água?


Parte IV


Se eu fizesse uma lista das coisas que eu mais gosto, “estar na estrada”, certamente faria parte dela. Prefiro os trajetos aos destinos. E pensei isso, no próprio trajeto. E pensei na vida como um trajeto...Eu deveria gostar mais da vida. E me lembrei das pessoas que não se importam em saber o final dos filmes antes de vê-los. Para elas o que importa é o processo.

A estrada à noite é um espetáculo, melhor que os fogos de artifício no início do ano. Luzes. Só luzes.

Só ontem reparei que para os que vão as luzes são vermelhas, e para os que vêm , são amarelas.

Luzes.

Aquelas pessoas que estavam comigo...Sem elas eu não existiria. E pensei em como seria existir sem elas...Por que apesar de todos os imprevistos, a ordem natural é que os mais velhos morram primeiro.

Todas aquelas luzes...Montanhas de luzes...



- Olá angústia!



Tive vontade chorar, mas não queria dar explicações, então guardei o mar nos olhos e torci para que a lei da gravidade contribuísse.Ainda bem que era noite.

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