quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Enquanto eu esperava o tempo passar...

Silêncio. Nenhuma alma viva andando pelos corredores. Salas vazias, portas fechadas e luzes apagadas. Um perfeito cenário para um filme de terror de história fraca e umas poças de sangue pelo chão; ou, quem sabe, para um drama : a solidão de um funcionário invisível.
No escuro vazio da sala perto da escada acontece a festa de aniversário de alguém que já morreu há muito tempo. O som dos instrumentos quebrados enche o ambiente de uma música ,que ao mesmo tempo é alegre e triste, numa frequência que a vida não é capaz de ouvir. Os fantasmas riem da época em que eram vivos e queriam tudo quanto pudessem querer, riem de nós, das nossas tolices, de nossos desejos mais egoístas. Alguns dançam, sem se importarem com o resto do mundo : são invisíveis aos nossos olhos e deixaram na vida todo o constrangimento que lhes impedia de serem livres. Não se importam mais com o mundo porque dele já não fazem parte.
A um canto dois fantasmas conversam sobre o que mais gostavam em vida. "Abraçar alguém que não via há muito tempo", diz o primeiro, e o segundo sorri, quase como se fosse tomado pela lembrança. Diz que o que mais gostava era do cheiro dos lençóis recém- lavados.
No canto oposto as crianças brincam, divertem-se com suas próprias brincadeiras de fanstasma.
Quase na hora do parabéns ouvem-se passos, e a festa termina, porque o mundo de cá não se mistura com o mundo de lá.
Um rosto desconfiado olha pelo vidro da porta, dá de cara com o escuro. A pouca luz permite ver que aparentemente não há ninguém ali, "Nem poderia", pensa ao girar a maçaneta. A porta estava trancada.

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