quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O Desenhista

Quando entrei no trem o primeiro esboço já havia sido feito com um lápis azul claro. O homem do esboço encontrava-se no lado oposto com o seu chapéu e camisa camuflados e seus fones no ouvido. Após um tempo pareceu desconfiar que estava sendo observado. O desenhista, que também usava fones de ouvido, fazia um traço e levantava os olhos . Seu olhos estavam protegidos por grandes óculos escuros, talvez fosse um truque, pensei.
Do traço azul e leve chegou-se ao traço preto e firme com alguma caneta especial, que requeria certa força para se desprender da tampa.
O resultado final foi digno de aplausos, cumprimentos. Mas o desenhista não parou. Assim que terminou de registrar aquele homem comum a porta do trem se abriu e mais pessoas entraram, e ele as devorou com os olhos escolhendo a próxima vítima. Seria um jogo divertido... Ele começaria a desenhar e eu, pelo desenho, tentaria descobrir quem era o modelo da vez.
Não foi preciso muito esforço, até porque eu já tinha o meu palpite, que se confirmou. Ele escolheu a moça dos óculos e dos cabelos cacheados presos em um coque.
Foi então que percebi que eu não era a única a observá-lo. As pessoas próximas a ele olhavam para o desenho e depois para a moça e quase sorriam.
Ela não sabia que estava sendo registrada. Por um momento pensei que soubesse, quando ela fixou os olhos no desenhista que olhava para ela e voltava a riscar a folha.De novo os óculos escuros...Como ela poderia saber se ele estava olhando para ela ou para outra pessoa?
Na folha de papel ela estava bem mais sorridente. E foi aquele sorriso, o da folha de papel, que ela deu quando recebeu o seu retrato das mãos do desenhista. Na próxima parada ela desceu do trem sorrindo e agradecendo.
Quanto ao Sr. do chapéu camuflado, ele pegou a folha,agradeceu, mas não sorriu. Dobrou o seu rosto ao meio e desceu na mesma estação que o desenhista.

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